"O QUE VOCÊ TIVER HERDADO DE SEUS ANTEPASSADOS, CONQUISTE-O NOVAMENTE POR SI. DO CONTRÁRIO NÃO SERÁ SEU".(VON GOETHE)



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

BOLACHINHA

 Autor: Pedro Alves Neto
Não havia por minha iniciativa
Nenhuma vontade em escrever,
Um acontecimento que tento esquecer.
Numa dor que é muito explosiva
Quero apagar, mas está viva
Sufocando e me fazendo sofrer,
O tempo passa e continua a doer
Pois me remove ao peso da verdade
Que me magoa e traz esta saudade.
E me acompanha no meu envelhecer.

Falar da jumenta bolachinha
Que por falta de cuidados a perdi
E até hoje dela nunca esqueci
Um animal: mansa e bonitinha.
E que na inexperiência minha.
Soltei ao campo e não mais vi
E por isso esquecê-la resolvi.
 E até hoje não sei onde andará
Mas no meu peito ela sempre estará
Remexendo a saudade que senti

Lembro- me ainda aquele dia
Que a tirei da beira do rio
Pois já era época do plantio;
Em janeiro era o que se fazia
Semear ainda no estio
Ver nascer pela chuva ou pelo frio
O milho, o arroz e o feijão;
 E caso o inverno acontecesse,
A colheita não deixar silo vazio.

Não era aquela a melhor maneira,
Para cuidar de minha jumentinha,
Soltá-la na estrada sozinha;
Pra comer marmeleiro e catingueira
E lamber lama podre de barreira
 E não fora só crueldade minha,
Mas uma sorte tão mesquinha
Que a bolachinha tivera em sua vida
Ter seu dono uma pessoa desprovida;
Não possuir um cercado pra bichinha!

Quero agora aproveitar e esclarecer,
Uma verdade para, mim muito doída;
Que se passou à época em minha vida
E nunca consigo de esquecer;
Sempre tive uma vontade de ter
A s diferenças bem compreendida;
A minha razão compadecida!
E o sentimento mais forte que a razão.
 Mas sempre quis ter outra criação:
Uma vaquinha seria a preferida!

A minha posse era só a jumenta!
Nada mais tinha para barganhar,
Dinheiro nenhum para comprar;
Capim ou qualquer coisa que alimenta:
Um animal de fome já sedenta,
As providencias eu tive de tomar;
Foi doloroso mais tive de soltar;
A bolachinha sem rumo foi trotando
E do terreiro eu fui acompanhando;
Aquela imagem até hoje me faz chorar!

E para piorar ainda mais
Eu iria dalí me ausentar;
Pois era precisava estudar
A sede do saber era demais;
Mesmo que pra isso jamais;
Eu voltasse a ver meu animal,
Que teve um tratamento desigual,
Fora atirado ao mundo do abandono
Solitária faminta e longe do dono;
Exposta sem rebanho e sem lugar.

Passado o período da invernada,
Quando a folhagem desapareceu
Aí sim! O real me ocorreu,
A bolachinha era muito esperada,
Pois quando a soltei, tava amojada.
Devia voltar com filho seu.
Um jegue macho era o sonho meu
Mas o meu animal não mais voltou
E até hoje quem dela se apossou
Nem o lugar que a jumenta morreu.

Eu já falei da saudade medonha,
Que sinto até hoje dessa muar;
Não posso deixar de relatar;
Outra relação forte e estranha.
Isto aconteceu não é façanha;
 Quem a conheceu irá lembrar;
Uma jumenta num sertão nos faz pecar.

E não era só para intimidade,
Aquela defesa que eu fazia da bolachinha,
Até mesmo se fosse montaria,
Não queria nenhuma proximidade,
Esta forma dava exclusividade;
Para eu montá-la a hora que podia.
Mas minha irmã também queria!
Andar a cavalo em bolachinha;
E eu pra provar que era só minha.
Uma série de maldade eu fazia.

Lembro-me ainda de um fato ocorrido,
 A Natilia e Baldina nela montaram,
E por alguns minutos aproveitaram;
Mas eu, num furor embravecido,
Eu acho que por ciúmes perdido;
Pedi que elas desmontassem e não ligaram
E nada que fiz lhes intimidaram;
Fui tomado pelo surto de agressão;
Catei um pedaço de pau que estava ao chão
Que açoite em açoite se espedaçaram!

Nunca havia visto tanta estripulia,
Nada segurava a bolachinha,
Pulava corria aquela jumentinha;
No início as minhas irmãs até sorria
Mas à medida que o tempo corria;
Ai é que se viu ninguém continha:
Eu já eu contabilizava a culpa minha.
Foi de cortar meu coração;
Ao vê-las rolando pelo chão;
E ressentido e culpado eu me sentia!

A Baldina por muito tempo sentiu dor,
A Natilia teve menos sofrimento
Mas até hoje lembro o momento;
Que as duas me olharam com pavor;
E me condenaram pelo instante de terror;
E trago dentro do meu pensamento;
Quero até externar meu sentimento!
O culpado fui eu, de coração;
Mas quero hoje lhes pedir o meu perdão.
E lhes dizer que por vocês tenho amor!

Não há esperança: que dê jeito,
A bolachinha não irei mais encontrar,
Quero minha saudade agora registrar.
E que este caso para mundo cause efeito
Pois carrego bem forte no meu peito;
A certeza de que tenho que mudar;
E se ainda eu poder comprar;
Qualquer animal ou criação,
Para ele irei dar toda atenção:
Com todo respeito irei cuidar!

O jumento faz parte da história do nordeste.

sábado, 13 de novembro de 2010

A FORJA

Autor: Pedro Alves Neto
A história da minha vida não faz nenhum sentido, se separada do meu ofício que desempenhei por vários anos, minha infância e toda adolescência: puxador de fole. E isto marcou muito! Acho que mais positivamente, mas foi motivo de chacota, pois os irmãos achavam que meu trabalho era improdutivo; mas desde pequenino lá estava eu na casinha de taipas, onde era instalada a forja: puxando o fole.  Minha estatura era pouca; tanto que para isso tinha que subir num caixote para alcançar a alavanca; que eu fazia subir e descer, para que se represasse  de ar o abafador  originando o vento forte; provocando a oxigenação do carvão, o que produzia combustão eficaz, uma labareda intensa e desta o aquecimento suficiente as barras de ferro, usadas na fabricação de ferramentas de qualidade, pelo melhor ferreiro da região o senhor João Alves de Sousa JAS: meu pai. (JAS era o carimbo que se marcava as ferramentas).
Este trabalho começava, na fabricação do carvão vegetal, extraído da queima da jurema preta; árvore encontrada nas regiões de Semi- Árido nordestino, não muito abundante, o que nos proporcionava longas caminhadas mata adentro para que se pudéssemos fazer a derrubada e poda, produzindo toras que empilhávamos numa trama de jogo da velha, e erguíamos a fogueira, que ao ser incendiado aos poucos transformava madeira no combustível necessário para alimentar a forja.
Não era fácil a derrubada e o retalhamento da madeira, dura e espinhosa; seu caule tortuoso e cheio de nós que impedia machados ou foices de lhes penetrar; as pontas dos ramos cheios de espinhos pontiagudos que iam penetrando na pele, dos que se atrevessem carregá-los para o local da queima. Não bastasse a dureza de se cuidar da fogueira, ainda tinha que se encontrar água, para se apagar o fogo. Pois produzir carvão exige conhecimentos, para se achar o ponto certo do abafamento da brasa, de tal forma que este se mantenha carregado de material inflamável, objeto da combustão desejada  no aquecimento do ferro cru. E se era tão difícil encontrar a madeira, mais ainda encontrar água! E artesanalmente, com todos esses percalços, conseguíamos a matéria essencial para nosso trabalho.
O carvão de fato era fundamental, mas a forja necessitava de outros equipamentos, como: ferro, bigorna, marretas, tenaz, talhadeiras, punções, martelos. E mão de obra especializada. (recursos humanos). Era eu o puxador de fole, e meu pai o ferreiro! Aquele ambiente era quente e de muita poluição sonora, mas mesmo assim freqüentado pelos contratadores dos serviços: produtos novos e consertos de ferramenta já usada. Um ponto de encontro, quase sempre de agricultores dos sítios circunvizinhos; estes traziam as peças e esperavam, para levá-los de volta: apontadas e temperadas, e muitas vezes amoladas; prontas para utilização na terra!
Começávamos muito cedo, mal o dia havia amanhecido! Justificava-se; pois a temperatura ambiente, pela manhã mais amena contribuía para uma resistência maior e, por conseguinte melhor produtividade. Então com uma faísca na boca da fornalha, aceleração no movimento do braço que aciona o abre e fecha do fole; começava a se desdenhar um clarão do ferro incandescente, que de tão quente amolece, se deixando amassar e dobrar pela força da marreta, e ia se espalhando pela bigorna tomando formatos geométricos, sinalizando o que viria a ser no futuro, graças à competência do seu feitor. E a bigorna recebendo a barra de ferro quente e a força da martelada, também ia pouco a pouco se aquecendo pela troca de calorias.  E tudo contribuía para que a temperatura ali fosse muito elevada, quase insuportável! Mas o movimento de entrada e saída do ferro bruto, na fornalha; e a mudança nele ocorrida lentamente projetando a futura peça, encorajava-me e instigava minha curiosidade. Chegava viajar numa imaginação, onde eu assumia outro papel: criando e recriando mentalmente, produtos  daquela transformação.
O belo trabalho era desenvolvido pelas mãos calejada daquele homem, cujo suas peças eram cobiçadas pelos moradores da região; tão extraordinário era seu profissionalismo, desenvolvendo relíquias de ferramentas agrícolas. Trabalho muito duro; às vezes imprudente e irracional; e com certeza o que move meu pensamento nesta reflexão, era o modo como aquelas molas rústicas e mal acabadas, iam ganhando formas delicadas e leves, numa transformação engenhosa e genial, e aos poucos não mais eram barras de ferro incandescente; mas já, peças lapidadas: foices, roçadeiras, cavadores, enxadecos, enxadas, etc.; subprodutos de uma qualidade tão excepcional; que não havia tempo de atender a demanda; a procura pelas ferramentas com a marca JAS. Era de causar espanto! Pela qualidade, não se imitava; eu diria sem medo de errar: JAS!  A melhor marca de ferramentas da Paraíba!
As condições de trabalho eram precárias, a segurança também muito ruim, até hoje tenho marcas  pelo meu corpo, dos cortes produzidos pelas lascas de ferro, desprendidas quando atingidas pela marreta. O calor infernal, e ainda uma poluição enorme das cinzas e fumaça da queima do carvão! Meu pai às vezes até tomava uma birita, e me dava também um gole, “ele dizia que espalhava o sangue”, pois era sufocante permanecer na casinha da forja: só tomando uma! Principalmente com a fornalha acesa e cheia de barras de ferro superaquecidas! Uma lembrança que não me incomoda relatar, pois fora para mim educativa e instrutiva; visto que lidávamos com peso e medidas, e ainda uma atenção redobrada; para que  tudo acontecesse sem falhas graves. “Ferro a partir de uma determinada temperatura ele queima; perdendo sua composição química, e a liga que lhe permiti a moldagem”. Logo o tempo todo era um olho no fogo outro no ferro, até atingir o ponto certo! E ainda  havia que se ter outros cuidados como: a têmpera das ferramentas de corte, cuja afiação implica na produtividade de quem a manuseia.
Havia naquela oficina, uma linha completa de produção, eu e meu pai participava disso do começo ao fim, do ferro não polido a ferramenta de corte! E esta experiência me acompanha até hoje, muito forte.  Até numa metáfora!  Posso de certo afirmar pela a convivência de puxador de fole que: prefiro o ferro forjado, a ferro fundido! Um é a dialética da transformação, o outro é rigidez da perpetuação, a negação da mudança. E naquele meu ofício certamente, o martelo, o calor, e a forja, iam mudando o formato das barras de aço bruto, mudando a minha vida também! em um aprendizado contínuo de concretude. Até hoje!... Uma parte da minha história, que não se resumiu no tinido das marteladas, mas na possibilidade de fazer parte do conhecimento sistêmico de outras histórias, e humildemente reconhecer minha pequenez perante a grandeza do mundo! Inesquecível oficina, e grandioso pai, que me fez crescer de mãos calejadas de calos, mas de consciência límpida focada na sabedoria e honestidade. Hoje a marca JAS, não registra foices ou roçadoras; mas sim, a consciência de homens e mulheres que viram e reconheceram seu valor. Assim também me sinto carimbado de corpo e alma, pela inicial que me ascendeu ao futuro da respeitabilidade e honradez!


O DIA QUE O MUNDO QUASE ACABOU

Autor: Pedro Alves Neto

Numa manhã de sol escaldante, o local era: sitio Quintiliano município de Ibiara no sertão da Paraíba. Era uma seca medonha, ouvia- se o estalar das folhas secas ao chão, o céu azul anil, a temperatura acima dos 35º, naquela época do ano. Os homens mais velhos, como de costume, saem para cuidar de roça criação, naquele momento não se encontravam em casa, mas se encontrava nossa mãe as crianças, dentre esta me incluo, com 7 anos; éramos cinco, com  a bebê:  a caçula da família. E todas as irmãs mais  velhas mulheres, estávamos lá! E o que nos fez mais temerosos naquele momento? Com certeza foi além de um acontecimento extremamente desconhecido, a religiosidade arraigada, pois éramos fervorosos praticantes do catolicismo; a fé nos tomava por completo. A tal ponto, que naquele dia nós embarcarmos num momento irrefletido e de pavor! Podemos afirma que esta nos cegara por completo!
Ao longe se ouviu um estrondo, mais outro e outros foram se repetindo concomitantemente; quase  que numa onda continua de um barulho ensurdecedor! Não se via a causa do grande estrondo! Um sol tão forte que ao refletir ao chão nos dava a sensação de fumaça esvoaçando; logo aquele barulho se parecera por demais com explosões, e o que poderia provocar tamanha balbúrdia, que poder provocaria tudo aquilo? O criador! Senhor de todas as coisas “visíveis e invisíveis;” e claro que por conseqüência, estávamos diante do juízo final! Só poderia ser um fim dos tempos, profeticamente anunciado: dragões soltando lingüetas de fogos, trombetas fazendo o enunciado do acerto de contas derradeiro! Não tivemos tempo para uma reflexão melhor,  de repente todos nós já estávamos juntinhos e de mãos dadas, num clamor único pedindo para que fossemos perdoados; e todos em pranto,  choro copioso, só mudávamos de tom e sentido para lembrar, amarguradamente dos irmãos e do nosso pai, que não se encontrava ali; e na oração pedíamos também por eles.Era tão alto nossos brados, que nem percebemos que  o barulho aos poucos se afastara e desaparecera!
Não durou tanto tempo aquele ocorrido, cinco ou dez minutos, mas posso afirmar que foram longo, algo muito forte que se mantiveram na minha memória até hoje; e para que se torne ainda mais permanente, faço aqui este registro. E quero com isso, ocupar uma lacuna aberta pela falta de meios de comunicação à época; pois sabemos que possivelmente muitas pessoas sofreram também naquele dia;  não tendo sido divulga; pois a região era muito desprovida de recursos; e principalmente de meios que pudessem esclarecer, o que de fato estava acontecendo.
 Passado algumas horas do episódio,  tão desorientados ficamos que mesmo após o desaparecimento do som, não demos por confiante que tudo teria acabado; e de prontidão esperávamos por outra onda! Não fora tão grande o castigo da incerteza; pois chegara o irmão mais velho, e aí, nos acalmou de vez; pois ele sabia do que provocara, o horrendo barulho no nosso pequeno rincão.
Este tinha acesso a leitura de uma revista famosa (Seleções), e havia tomado conhecimento da existência de aviões supersônicos.  Ufa!... Agora nos aliviara de vez: o que acabara de passar sobre nossas cabeças naquele dia, eram um comboio de aviões muito velozes, que provocavam um grande estrondo ao quebrar a barreira do som, no deslocamento do ar, voavam a grande altitude quase invisíveis e na mais altíssima velocidade! Não imaginem a satisfação que nos tomou conta após este esclarecimento; pois de fato todos ainda estávamos atônitos, de rosário à mão para continuar nossa reza, quanto tempo fosse necessário, até fosse consumado nosso sofrimento!
O que me marcou profundamente, daquele momento muito angustiante, foi a demonstração de fé da nossa mãe: nos transmitiu no momento tão doloroso, a esperança da vida eterna, e dizia ela nas entrelinhas;  lembrando de todos entes queridos filhos ou não! Lábios trêmulos, voz repleta de aflição, dizia: “que pena não morremos todos juntos! Mas iremos logo nos encontrar no paraíso!” O desejo que todos estivessem reunidos, como se numa grande despedida! Lembro-me também que a nossa irmã caçula, estava dormindo e ela a acordou, para que fossemos agraciados com uma benção, uma palavra que fosse derradeira! Para tanto era necessário que estivéssemos lúcidos! Juntos de mãos dadas e de olhos bem abertos! Em comunhão.
Passado o susto, era necessária uma informação mais completa dos fatos; e não era pra menos; pois os boatos logo correram o sertão afora,  todos e todas davam versões do ocorrido. Os que conseguiram visualizar afirmaram com precisão que se tratava de um grande comboio de aviões, e contaram ate quinze aeronaves; por que tantos? Era de se perguntar mesmo: o que fazia tantos aviões, aquela velocidade, numa altura absurda, quase invisíveis sobrevoando os sertões do Nordeste?
E o que para nós, por algum momento foi algo aterrorizante quase o juízo final; para EUA, era uma demonstração de força bélica, aqueles aviões eram caça bombardeio, que iriam despejar bombas no Vietnã; eram abastecidas no Brasil! Iam e vinham pelos nossos céus. Tivemos que ouvir por muitos meses aquele ribombar nos ares, pois a guerra durara tantos anos!... Mas, felizmente vivos. E até começamos observar melhor, minúsculos pontos metálicos refletidos ao sol, que se deslocavam bem a frente do barulho numa altura quase infinita! E agora que bom! Não nos punha em pavorosa agonia! E aliviados por conhecermos o significado de tudo aquilo; e felizes, pela prorrogação do nosso julgamento final.

domingo, 17 de outubro de 2010

O PÉ DE CAJU PARA SEMPRE

Autor: Pedro Alves Neto

Quando nasci: de certo já terias nascido; pois logo que comecei a ter consciência acompanhei teu desenvolvimento, uma árvore já adulta; por quem me apeguei: Um Pé de Caju sedutor! Mas não estás mais plantado onde tantas vezes usufrui da tua refrescante sombra e de teus frutos composto de ferro e vitaminas. A intempérie climática te assolou abruptamente! No teu lugar a erosão pela falta de tuas raízes e nada mais. Hoje me recordo com lágrimas aos olhos: tua beleza exuberante! Eras tão robusto, que ao longe, podia se vê teus galhos acenando num vai e vem embalado pelo vento; numa saudação inesquecível. Não eras tão alto, mas frondoso; e quase como se de propósito arrastava-se ao solo como se quisesse nos proteger ao teu tronco. E que tão bela era tua folhagem verde rocha; uma imagem que ao longe se contrastava: ora verde, ora rocha, e ao reflexo do sol; confundíamos folhas ao fruto.
Ainda me lembro ao final da temporada das chuvas, quando da tua florada; que perfume maravilhoso tu exalavas! Era grande a concorrência dos insetos em busca do teu néctar; que a distancia podia se ouvir o zumbir das diversidades de abelhas e besouros, plainando ao redor de teus ramalhetes de flores, pousando se alimentavam delas, e ao mesmo tempo polinizavam, numa troca intensa e vital, pois tua fertilidade era incomparável: todos os anos davas  uma safra abundante e maravilhosa de centenas de cajus avermelhados! Uma pintura tridimensional, belíssima obra da natureza, que dava gosto de se vê e contemplar.          
Quando chegava à época da colheita, aí sim teus galhos dobrados pelo peso do carrego curvavam-se ao chão, e toda tua grandeza se excitava, num movimento harmonioso: pelo vento que parecia ninar teus galhos frutíferos ou pelo coro dos passarinhos, que alegremente vindos de todas as partes, saboreavam teus inimitáveis frutos! Eram: Azulões, sabiás, xofreus, beija-flor e tantas outras espécies. Faziam dos teus galhos moradia e banqueteavam as delicias do mel, espremidos da poupa dos teus frutos  carnudos, diferente de todos os cajus das redondezas. Por esta qualidade, se fazia necessário defendê-los dos cobiçados interesses, humanos e de outros animais. E assim sendo, fui eu encarregado pelo meu pai, para esta impopular tarefa! Defendê-los dos ataques eminentes.
Aí conheci profundamente o grande interesse  que havia àqueles ainda vigados cajus, tanto que por vezes tive que revesti-los com pano de saco alvejado, para que não despertasse  ainda mais a tentação de devorá-los; pois eram irresistíveis aos olhos dos que por ali passavam.
Fui também protagonista de te fazer conhecido, noutros lugares, e os levei em cestas, confortáveis numa arrumação carinhosa para não danificá-los, bem madurinhos, dalí para os bares de Ibiara, onde eras disputados pelos apreciadores de uma boa cachaça, como requintado tira-gosto! Até foste economicamente rentável; proporcionando alguns trocados para mim!
Tuas castanhas, fruto ou semente? Não quero entrar nesta polêmica; mas eram graúdas, pesadas, de bagos saborosos quando assadas. Por tão grande produtividade também sobravam ao consumo doméstico, e se comercializava por dúzias. E transformava-se em produtos de maior valor agregado; doces, cocadas e outras guloseimas; com aceitação nas doçarias e comércio alimentícios.  E usávamos também para jogo lúdico, muito importante para nosso desenvolvimento psicomotor, e raciocínio lógico; com toda propriedade posso dizer que tuas sementes foram meu primeiro brinquedo pedagógico.
Mas com uma temporada de chuvas torrenciais, veio a grande enchente!  O rio que tanto te desse alento aguando tuas raízes, matando tua cede e revigorando-te com adubos naturais; agora, não mais te alimentou de água fresca, ao contrário te abraçara mortalmente! A roda moinho turbinada pela correnteza tenebrosa, te arrancou do solo, te levou rio abaixo. Não sei para onde!
Cajueiro! Cajueiro! Pela natureza da tua constituição biológica, não tens alma, por isso não sabes a dor que sinto ao passar naquele pedaço de baixio! Uma sensação de vazio, uma carência enorme de ter de novo tua sombra; a várzea sem ti é hoje um campo desprotegido. Não há mais solfejo de pássaros naquele lugar! O vento parece assobiar uma marcha fúnebre! A minha imaginação chega a te ver erguendo-se novamente como se querendo me envolver! Ah! Como eu queria isto fosse possível, e de verdade estivesse hoje fincado ao lado da pitombeira, botando lindos frutos, sombreando a vazante, ocupando um espaço que foi e sempre será insubstituível ao teu ostentoso espetáculo arbóreo!
Penso até que tu partiste pela saudade que sentiste também de nós, pois fomos todos embora! Uns para nunca mais!... Nossos pais, João e Antonia, eu e todos os irmãos mudamos para bem longe, buscar novos horizontes.  E tu ficaste para trás! Não por falta de querê-lo junto, mas pela impossibilidade de carregá-lo! E ao voltar à terra amada, não mais estas lá!... Só que tua lembrança perpetua-se no meu pensamento. Como não sei teu paradeiro, quais as curvas te enroscaram e até quem sabe sobreviveste à fúria das águas!  Não sei! Sem estas informações, prefiro imortalizar-te nesta escrita!  Posso não te ver concretamente esvoaçando ao sopro dos ventos, onde sempre te vi, mas serás a partir de hoje nos corações e mentes dos meus leitores: um Pé de Caju, no sítio Quintiliano, as margens do rio Piancó. Para sempre!...
Em 15/10/2010

domingo, 10 de outubro de 2010

FOTOS DA FUNDAÇÃO E 1ª ASSEMBLEIA

DIRETORIA - 2010-2012

Clebertina Parente de Sousa - Presidente
Albemária Lécia Alves Leite - Vice- Presidente
Maria Galdino Coelho - Primeira Secretária
Lidiane Felix dos santos Pereira - Segunda Secretária
Jairo Alves Pereira - Primeiro Tesoureiro
Maria Vania Galdino da Silva - Segunda Tesoureira



Conselho Fiscal


Erica Maria Galdino Coelho
Bernadete Pereira da Silva Alves
José de Sousa Alves
Donatilia Alves de Lima.

CRIANÇAS LEITORAS DE IBIARA PARA O MUNDO





quarta-feira, 29 de setembro de 2010

CASA ONDE NASCI


 

Casa onde Nasci (Pedro Alves Neto Em. 28/04/2010)

Quem passa naquela estrada
Ao longe verá uma bandeira
Mais perto avista a porteira;
Que indica da casa a entrada.
No oitão, uma roseira fincada,
Por mamãe grande guerreira!
Que ali residiu a vida inteira
Trabalhando de foice e enxada;
Que morreu a sofrer e calejada;
Tendo  a solidão de companheira

No terreiro as marcas de fogueira
Que  ali era a grande tradição,
Principalmente na noite de s. João;
Reunidos todos nos a noite inteira
Envolto do braseiro, a brincadeira
Do anel de roda e cantoria;
Não posso esquecer tanta alegria
São recordações que até hoje permanece;
Esta casa este lugar ninguém esquece;
E faz parte do nosso dia a dia.

Havia ainda uma bacia
Bem cheia de água transparente
Para com o fogo reluzente;
Fazermos  uso da velha simpatia
Para nos enchermos de alegria
Vermos nosso rosto aparecer,
E a grandeza da fé efervescer;
Na certeza de termos um amor
Ou talvez um grande dissabor
Quando ao rosto, um vulto aparecer!

Ainda no fundo da morada,
O pé de juazeiro envelhecido;
Pelos anos e vento estremecido.
Grandiosa árvore abençoada!
Rudemente fora transformada;
Numa grande privada coletiva!
Também  numa sombra alternativa;
Das galinhas que todos ali criavam;
Poleiro onde elas pernoitavam;
Uma lembrança  que forte e altiva!


Mas a lembrança  causa decisiva,
Que me fez traçar este poema.
Talvez falte o principal fonema;
Prá fazê-lo  fonte expressiva;
Com certeza a fé mais combativa;
Está exposta na  sala da frente.
Um oratório de imagem comovente
De  Jesus , Maria e José,
Outros santos que nos uniu na fé;
E continuará nos unindo certamente!

Quem passa  na estrada, indiferente,
Nunca poderá imaginar
Dezessete pessoas  a morar;
Unidos  de forma irreverente;
Esperançosos no que estava à frente.
Todos juntos  na saúde  e na dor;
Com alegria, mas também dissabor;
Passando por muita privação
Mas, animados com fé e devoção
Somos quinze pessoas com valor

Pai e mãe no céu, ou onde for
Que vocês estejam morando
Nós seus filhos aqui lutando
Preservando o senso de humor.
O trabalho  a esperança e  o amor;
Mesmo cada qual no seu lugar
Esta casa continua a marcar;
O relógio da nossa existência.
Passo a passo com muita consciência.
Queremos seu exemplo preservar!

Todos os nomes vão lembrar,
Raimunda, Manoel e Maria
Terezinha, Francisca que um dia;
Nas suas casas já pude morar
Antonio, Paula , José quero lembrar;
Pedro  eu, Donatília e Bernardina
E o pensamento ainda me atina;
Para Maria Vilani  e Romualdo.
José Dudú , enviuvado
E Beatriz a caçula pequenina!



Uma entrada de forma repentina;
Nesta casa nosso berço singular;
Com certeza não poderá notar.
Um moinho que fazia a massa fina.
Um  candeeiro e uma lamparina;
Um armário uma mesa e um fogão.
Encostado na janela um pilão;
Diversos armadores na parede,
Era onde se armava nossa rede,
Cada detalhe nos enche de emoção!

Do mês de maio a maior recordação
E do primeiro dia de novena!
Com tanta gente a casa era pequena;
Todos com muita devoção,
Num momento sublime de oração;
Levávamos a bandeira pro terreiro,
Cantávamos bendito mensageiro;
Para a mãe santa e rainha saudar
E a bandeira branca hastear;
E neste mastro permanecer o ano inteiro!

E se dermos uma volta por inteiro
Com certeza vamos se lembrar;
Do pé de angico arvore secular;
Que era marca do amor verdadeiro;
Do nosso pai, mesmo sendo carpinteiro.
Conseguia de forma inteligente;
Manter das espécies a semente;
Aroeira, mandacaru imburana;
Pau darco, para ter madeira plana
Fazia esta defesa firmemente.

Tantas coisas estão na minha mente;
Claro que daria para escrever bem mais,
Mas outros escritores  geniais;
Poderão de forma mais conveniente;
Talvez num contexto diferente;
Possa essas lembranças registrar.
Eu já irei um ponto final dar;
Desejando a toda a irmandade,
Saúde  paz, felicidade.
Perseverança pra história continuar.

Eu espero que sintam a essência do quanto este conteúdo, me importa;
para que tenha tido a importância do sentimento que me apanhou na hora de escrevê-lo.
Um grande abraço      Pedro Alves neto 

LIVRO, COMO TE CONHECI

LIVRO, COMO TE CONHECI!

Eu te conheci, ainda muito criança, em um caixote de madeira sem tampa, local em que ficavas guardado na minha casa. Foi amor à primeira vista. Era tão grande o meu zelo por ti que até te escondia dos meus irmãos, e te queria só pra mim. Percebi, desde então, a sua importância, e sempre que tinha um tempinho manuseava, folheava tuas páginas e na minha imaginação inventava tuas histórias. Eu nutria por ti uma verdadeira adoração; até que um dia aprendi a ler e passei a desvendar teus mistérios e cada vez mais meu encanto ia aumentando. Lembro que, o começo foi assim, minha mãe era analfabeta, mas dotada de uma sabedoria que só podia ser divina. Matriculou os dois filhos mais velhos, no caso, meus irmãos na escola, da cidade mais próxima, que ficava a oito quilômetros do sítio que moravam. Nessa época, é claro que eu ainda não era nascida, mas a sua intenção era que os mais velhos aprendendo a ler iam ensinando aos outros e foi realmente o que aconteceu. Todos os quinze filhos aprenderam a ler, a contar e a escrever um bilhete, como ela dizia. A busca dela não ficou só ai. Não sei explicar como, mas ela conseguia livros na cidade, acho que, na Prefeitura ou na Escola. Sei lá, o que sei é que os trazia para nossa casa. As imagens rondam minha cabeça como se fosse um filme. Eu ainda pequenininha, lembro que todas as vezes que mãe ia à cidade, quando se aproximava a hora de ela chegar, eu ia encontrá-la no caminho. Ela sempre trazia um agrado para mim que era a caçula, “preta” como ela me chamava. Na cabeça, ela trazia uma cesta com as compras que fazia na cidade (café, açúcar, sabão...) a feira da semana) e era misturado a esses produtos que, vez por outra, ela trazia os livros. Aqueles do caixote que falei! Apesar da pouca quantidade, esses livros formavam uma verdadeira biblioteca pela sua diversidade. Havia livros da primeira, segunda, terceira séries e tinha até um exame de admissão. Tinha livros grandes, pequenos, com capa, sem capa, cartilhas, revistas... A gente aprendia sobre tudo: História do Brasil e do mundo, Geografia, Religião, Astronomia etc., pois seus conteúdos referiam-se a todas as disciplinas juntas: gramática, matemática, estudos sociais, ciências. Apesar do meu apego, aquela coleção era coletiva, para ser compartilhada por todos. No entanto, era eu quem mais desfrutava dessas obras até por ter mais tempo disponível; pois, além de muito criança, ainda, era o mimo da mãe e demorei mais a ir para o roçado. Os afazeres de casa eram muitos e somente aos domingos era que dispunha de mais tempo para os livros. Logo que eu cumpria as minhas tarefas domésticas, sentava, debaixo de um pé de castanhola que tinha na frente de casa, sempre com um livro nas mãos. Minha leitura sempre foi despretensiosa. Lia todos os livros sem nunca apresentar resistência a nem um deles: os sem capas, ilustrados ou não, os de menor espessura, matemática, português, as cartilhas, os do MOBRAL que também faziam parte dessa coleção. Assim, praticamente sozinha, sozinha não, com os livros eu aprendi a decifrar o significado das palavras, livro por livro, página por página. Foi um aprendizado tão marcante que eu me emociono muito ao relembrar. Minha mãe chegava à porta e dizia guarda esse tibofe de livro, você vai enlouquecer! Pelo tom da voz, ela demonstrava repreender a minha atitude, isso me deixava um pouco triste e confusa poxa se era ela que conseguia os tais tibofes... Confesso que até hoje não descobri o que significa a palavra tibofe. Talvez para não magoar os meus sentimentos tanto do que sinto por minha mãe que representa tudo em minha vida, assim como, a grande admiração que tenho pelos livros.
São emoções que guardo que podem ser lembradas, mas não tocadas para não quebrar o encanto, entende? O fato é que o convívio com esse caixote de livros durou os anos vividos na casa de meus pais, até meus dezessete anos. Nem o caixote, nem os livros existem mais. Porém, o conhecimento e o amor pelos livros ninguém os tirou de mim. Hoje sou bibliotecária. Por escolha? Não... Talvez, por ironia do destino, mas sou muito feliz como tal. Sou ciente de que o livro abre horizontes, ensina, informa e forma, mas para mim é também objeto de desejo, de paixão. Tê-lo por perto me proporciona satisfação, prazer e me traz doces lembranças. Lembranças que quero guardar pra sempre.


Beatriz Alves de Sousa

O MENINO DA PIPA

O Menino da Pipa

Autor: Pedro Alves Neto


Em uma praça, próximo ao largo Santa Adélia; ele o menino de olhos saltitantes pele corada pelo sol das tardes de verão: dava linha ao seu mais admirável e inseparável brinquedo, uma pipa que parecia vivo e tremulava ao alto enrijecendo a linhada, quase que  indomável, peneirando aos céus do Jardim Vera Cruz.
Assim, era seu passa tempo; mesmo que as condições climáticas; não lhes fosse favorável; lá ele, juntava-se á outros garotos; para tornar aquela atividade mais animada e lúdica, uma reunião de alegria infantil!
Qual bando de pássaros em revoadas: seus pensamentos ganhavam o espaço, a sua imaginação tomava conta do céu, como se fora um cometa. E neste processo de criação, desenhava no seu inconsciente caldas imensa, deslocando-se numa trajetória astronômica; carregava e era carregado pela fertilidade do seu subconsciente; numa viagem interplanetária.
Não fosse o chamado de sua mãe, preocupada e preconizadora, como de qualquer genitora; ele viajava nos ares, quase que se transformara definitivamente, num óvni, ou talvez  num extraterrestre!
Assim, vivera por alguns anos, o menino da pipa; mas não o suficiente! Em uma tarde... Ah! Que tarde aquela pouco ensolarada; com rajadas de vento abruptas, que além de arrebatar a pipa das mãos; também o levou ao encontro inesperado da morte!
O menino, como de costume dava linha ao seu magistral papagaio, quando um forte vento arrebentou a linhada, e ele, numa tentativa irracional de recuperá-lo, se arriscou, num desenrosco fatal, quando este se prendera numa cerca eletrocutada! Ao simples toque de sua pequenina mão; desfalecera  a pequena criatura pela carga poderosa dos elétrons.
E, hoje o que se vê, nessa praça: um suar sombrio de um vento  invisível; mas que nos parece anunciar outras tragédias; pela imprudência de outros crianças, que parecem ter esquecido completamente do nosso menino; e se metem a correr atrás de pipas, que sem juízo; desgovernados; atraem outros, para emboscada funesta da cerca elétrica!
Deixai-as ir, por favor! Que se vá às pipas. E fiquemos nós crianças ou adultos; porque nosso pensamento poderá voar ao longe e acrescentar conhecimentos ao mundo; mas, se estivemos vivos aqui na terra, e com os dois pés, firmes sobre o solo. Assim teremos condições de construirmos outro brinquedo interessante, menos arriscado e com nossa inteligência ensinar brincadeiras menos perigosas e salvar vidas!
À aquela criança esperançosa e feliz, que se fora!  Nosso adeus! E saudades é  o que me impulsiona a escrever esta Crônica! E torcendo para que este fato sirva de alerta aos outros, que insanas vivem a se arriscar e por vidas tão pré-maturas em risco!


Postado em 26 de setembro de 2010

MANIFESTO

MANIFESTO (04/09/20010)

Este instante me permite uma evocação. Recordo aqueles que me ensinaram a admirar e respeitar as coisas corretas. Corretas no sentido da moral e dos bons costumes; corretas conforme seus princípios. Recordo agora e manifesto todo o meu apreço aqueles que me ensinaram a valorizar as coisas simples conquistadas com muita luta. Aqueles que me ensinaram a entender que não se deve querer coisas fáceis demais. Destarte, como diz o poeta “coisas fáceis valor nunca traz”. Também me ensinaram que é pela importância que damos às pequenas coisas, que conquistamos as maiores.
Por isso, hoje dia 04 de setembro de 2010 se plante uma semente na tentativa de resgatar essa grande história: A HISTÓRIA DA FAMÍLIA ALVES DE SOUSA para que ela se torne conhecida, admirada e respeitada. Para os que ainda não sabem ou para aqueles que não lembram, vou recordar um pouco aqueles que, para mim, foram os mentores dessa história.
Nosso pai foi um dos fundadores dessa cidade, pois ele foi operário da primeira escola e da primeira e única igreja da cidade. E quais os logradouros que identificam e edificam uma cidade?
Outra sua grande obra a meu ver foi a fabricação de dezenas de esquifes, onde repousavam os restos mortais de várias pessoas conhecidas, que faleciam na localidade. Era um trabalho gratuito e que, talvez sem nem entender a importância da sua ação, proporcionou um sepultamento digno a muitas pessoas. Na sua simplicidade, ele era conhecido por Mestre João. Teve várias profissões, tais como: ferreiro, carpinteiro, pedreiro e inventor, e sem saber ler, nem escrever, foi contador, pois, era ele quem fazia os inventários e as partilhas das terras quando se queria escriturar propriedades na região. Era imbatível na matemática.
Quanto à mãe, faltam palavras para defini-la: trabalho, atitude, inteligência, coragem... Mil mais. Não sabia ler, nem escrever. Não pronunciava corretamente as palavras, mas não tinha medo de expor nem de fazer valer sua opinião. Era forte, decidida e autodidata na administração. Era uma sem-terra, mas trabalhava na terra e da terra tirou seu sustento por toda vida. Para ela, não precisava ser dona da terra precisava nela produzir. Era analfabeta, mas exercia sua cidadania através do voto e participava da sociedade mesmo que se sentindo às vezes um pouco excluída. Porém, fazia questão de estar presente e trazer sua prole pra ver e saber das coisas mesmo que não tivéssemos o direito de fazer parte delas. Dessa forma, nunca fomos ignorantes.
Nossos pais foram assim pobres, sem recursos financeiros, sem qualquer ajuda da política ou da esfera social, porém, não roubaram, não mendigaram, não mentiram ou enganaram alguém, não se apropriaram ilicitamente de bens de outros, não mataram, não se prostituíram de nenhuma forma... Eles representaram realmente o que hoje está bastante difícil. Ficha limpa. Pois é, não se sabe como, mas deram conta de criar uma prole de quinze filhos, que graças a Deus e aos seus ensinamentos, ainda, seguem os mesmos princípios. É por essa razão e por muitas mais que não deu para expressar no momento que entendo e dou fé que essa história deve ser resgatada, preservada, respeitada e continuada.

Faço-me presente na pessoa de cada um que ora participa dessa reunião.

Abraços a todos, (Beatriz Alves de Sousa)



Romualdo e Pedro mandam abraços e se fazem presente também.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

INÍCIO


Foto da Fundação 04/09/2010

ELIMFAS – Espaço de Leitura Informação e Memória Família Alves de Sousa, fundado em 04 de setembro de 2010, é uma associação familiar, sem fins lucrativos, pessoa jurídica de direito privado e duração por tempo indeterminado, com sede na Rua Armenia Siqueira Campos 233, Centro Ibiara Estado da Paraíba. Tem por finalidade(s) O resgate da memória da Família Alves de Sousa, promoção cultural através do apoio e conservação de tradição artística cultural, incentivo a leitura, organização e distribuição de informação e produção de conhecimento.