"O QUE VOCÊ TIVER HERDADO DE SEUS ANTEPASSADOS, CONQUISTE-O NOVAMENTE POR SI. DO CONTRÁRIO NÃO SERÁ SEU".(VON GOETHE)



sábado, 13 de novembro de 2010

O DIA QUE O MUNDO QUASE ACABOU

Autor: Pedro Alves Neto

Numa manhã de sol escaldante, o local era: sitio Quintiliano município de Ibiara no sertão da Paraíba. Era uma seca medonha, ouvia- se o estalar das folhas secas ao chão, o céu azul anil, a temperatura acima dos 35º, naquela época do ano. Os homens mais velhos, como de costume, saem para cuidar de roça criação, naquele momento não se encontravam em casa, mas se encontrava nossa mãe as crianças, dentre esta me incluo, com 7 anos; éramos cinco, com  a bebê:  a caçula da família. E todas as irmãs mais  velhas mulheres, estávamos lá! E o que nos fez mais temerosos naquele momento? Com certeza foi além de um acontecimento extremamente desconhecido, a religiosidade arraigada, pois éramos fervorosos praticantes do catolicismo; a fé nos tomava por completo. A tal ponto, que naquele dia nós embarcarmos num momento irrefletido e de pavor! Podemos afirma que esta nos cegara por completo!
Ao longe se ouviu um estrondo, mais outro e outros foram se repetindo concomitantemente; quase  que numa onda continua de um barulho ensurdecedor! Não se via a causa do grande estrondo! Um sol tão forte que ao refletir ao chão nos dava a sensação de fumaça esvoaçando; logo aquele barulho se parecera por demais com explosões, e o que poderia provocar tamanha balbúrdia, que poder provocaria tudo aquilo? O criador! Senhor de todas as coisas “visíveis e invisíveis;” e claro que por conseqüência, estávamos diante do juízo final! Só poderia ser um fim dos tempos, profeticamente anunciado: dragões soltando lingüetas de fogos, trombetas fazendo o enunciado do acerto de contas derradeiro! Não tivemos tempo para uma reflexão melhor,  de repente todos nós já estávamos juntinhos e de mãos dadas, num clamor único pedindo para que fossemos perdoados; e todos em pranto,  choro copioso, só mudávamos de tom e sentido para lembrar, amarguradamente dos irmãos e do nosso pai, que não se encontrava ali; e na oração pedíamos também por eles.Era tão alto nossos brados, que nem percebemos que  o barulho aos poucos se afastara e desaparecera!
Não durou tanto tempo aquele ocorrido, cinco ou dez minutos, mas posso afirmar que foram longo, algo muito forte que se mantiveram na minha memória até hoje; e para que se torne ainda mais permanente, faço aqui este registro. E quero com isso, ocupar uma lacuna aberta pela falta de meios de comunicação à época; pois sabemos que possivelmente muitas pessoas sofreram também naquele dia;  não tendo sido divulga; pois a região era muito desprovida de recursos; e principalmente de meios que pudessem esclarecer, o que de fato estava acontecendo.
 Passado algumas horas do episódio,  tão desorientados ficamos que mesmo após o desaparecimento do som, não demos por confiante que tudo teria acabado; e de prontidão esperávamos por outra onda! Não fora tão grande o castigo da incerteza; pois chegara o irmão mais velho, e aí, nos acalmou de vez; pois ele sabia do que provocara, o horrendo barulho no nosso pequeno rincão.
Este tinha acesso a leitura de uma revista famosa (Seleções), e havia tomado conhecimento da existência de aviões supersônicos.  Ufa!... Agora nos aliviara de vez: o que acabara de passar sobre nossas cabeças naquele dia, eram um comboio de aviões muito velozes, que provocavam um grande estrondo ao quebrar a barreira do som, no deslocamento do ar, voavam a grande altitude quase invisíveis e na mais altíssima velocidade! Não imaginem a satisfação que nos tomou conta após este esclarecimento; pois de fato todos ainda estávamos atônitos, de rosário à mão para continuar nossa reza, quanto tempo fosse necessário, até fosse consumado nosso sofrimento!
O que me marcou profundamente, daquele momento muito angustiante, foi a demonstração de fé da nossa mãe: nos transmitiu no momento tão doloroso, a esperança da vida eterna, e dizia ela nas entrelinhas;  lembrando de todos entes queridos filhos ou não! Lábios trêmulos, voz repleta de aflição, dizia: “que pena não morremos todos juntos! Mas iremos logo nos encontrar no paraíso!” O desejo que todos estivessem reunidos, como se numa grande despedida! Lembro-me também que a nossa irmã caçula, estava dormindo e ela a acordou, para que fossemos agraciados com uma benção, uma palavra que fosse derradeira! Para tanto era necessário que estivéssemos lúcidos! Juntos de mãos dadas e de olhos bem abertos! Em comunhão.
Passado o susto, era necessária uma informação mais completa dos fatos; e não era pra menos; pois os boatos logo correram o sertão afora,  todos e todas davam versões do ocorrido. Os que conseguiram visualizar afirmaram com precisão que se tratava de um grande comboio de aviões, e contaram ate quinze aeronaves; por que tantos? Era de se perguntar mesmo: o que fazia tantos aviões, aquela velocidade, numa altura absurda, quase invisíveis sobrevoando os sertões do Nordeste?
E o que para nós, por algum momento foi algo aterrorizante quase o juízo final; para EUA, era uma demonstração de força bélica, aqueles aviões eram caça bombardeio, que iriam despejar bombas no Vietnã; eram abastecidas no Brasil! Iam e vinham pelos nossos céus. Tivemos que ouvir por muitos meses aquele ribombar nos ares, pois a guerra durara tantos anos!... Mas, felizmente vivos. E até começamos observar melhor, minúsculos pontos metálicos refletidos ao sol, que se deslocavam bem a frente do barulho numa altura quase infinita! E agora que bom! Não nos punha em pavorosa agonia! E aliviados por conhecermos o significado de tudo aquilo; e felizes, pela prorrogação do nosso julgamento final.

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