"O QUE VOCÊ TIVER HERDADO DE SEUS ANTEPASSADOS, CONQUISTE-O NOVAMENTE POR SI. DO CONTRÁRIO NÃO SERÁ SEU".(VON GOETHE)



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

BOLACHINHA

 Autor: Pedro Alves Neto
Não havia por minha iniciativa
Nenhuma vontade em escrever,
Um acontecimento que tento esquecer.
Numa dor que é muito explosiva
Quero apagar, mas está viva
Sufocando e me fazendo sofrer,
O tempo passa e continua a doer
Pois me remove ao peso da verdade
Que me magoa e traz esta saudade.
E me acompanha no meu envelhecer.

Falar da jumenta bolachinha
Que por falta de cuidados a perdi
E até hoje dela nunca esqueci
Um animal: mansa e bonitinha.
E que na inexperiência minha.
Soltei ao campo e não mais vi
E por isso esquecê-la resolvi.
 E até hoje não sei onde andará
Mas no meu peito ela sempre estará
Remexendo a saudade que senti

Lembro- me ainda aquele dia
Que a tirei da beira do rio
Pois já era época do plantio;
Em janeiro era o que se fazia
Semear ainda no estio
Ver nascer pela chuva ou pelo frio
O milho, o arroz e o feijão;
 E caso o inverno acontecesse,
A colheita não deixar silo vazio.

Não era aquela a melhor maneira,
Para cuidar de minha jumentinha,
Soltá-la na estrada sozinha;
Pra comer marmeleiro e catingueira
E lamber lama podre de barreira
 E não fora só crueldade minha,
Mas uma sorte tão mesquinha
Que a bolachinha tivera em sua vida
Ter seu dono uma pessoa desprovida;
Não possuir um cercado pra bichinha!

Quero agora aproveitar e esclarecer,
Uma verdade para, mim muito doída;
Que se passou à época em minha vida
E nunca consigo de esquecer;
Sempre tive uma vontade de ter
A s diferenças bem compreendida;
A minha razão compadecida!
E o sentimento mais forte que a razão.
 Mas sempre quis ter outra criação:
Uma vaquinha seria a preferida!

A minha posse era só a jumenta!
Nada mais tinha para barganhar,
Dinheiro nenhum para comprar;
Capim ou qualquer coisa que alimenta:
Um animal de fome já sedenta,
As providencias eu tive de tomar;
Foi doloroso mais tive de soltar;
A bolachinha sem rumo foi trotando
E do terreiro eu fui acompanhando;
Aquela imagem até hoje me faz chorar!

E para piorar ainda mais
Eu iria dalí me ausentar;
Pois era precisava estudar
A sede do saber era demais;
Mesmo que pra isso jamais;
Eu voltasse a ver meu animal,
Que teve um tratamento desigual,
Fora atirado ao mundo do abandono
Solitária faminta e longe do dono;
Exposta sem rebanho e sem lugar.

Passado o período da invernada,
Quando a folhagem desapareceu
Aí sim! O real me ocorreu,
A bolachinha era muito esperada,
Pois quando a soltei, tava amojada.
Devia voltar com filho seu.
Um jegue macho era o sonho meu
Mas o meu animal não mais voltou
E até hoje quem dela se apossou
Nem o lugar que a jumenta morreu.

Eu já falei da saudade medonha,
Que sinto até hoje dessa muar;
Não posso deixar de relatar;
Outra relação forte e estranha.
Isto aconteceu não é façanha;
 Quem a conheceu irá lembrar;
Uma jumenta num sertão nos faz pecar.

E não era só para intimidade,
Aquela defesa que eu fazia da bolachinha,
Até mesmo se fosse montaria,
Não queria nenhuma proximidade,
Esta forma dava exclusividade;
Para eu montá-la a hora que podia.
Mas minha irmã também queria!
Andar a cavalo em bolachinha;
E eu pra provar que era só minha.
Uma série de maldade eu fazia.

Lembro-me ainda de um fato ocorrido,
 A Natilia e Baldina nela montaram,
E por alguns minutos aproveitaram;
Mas eu, num furor embravecido,
Eu acho que por ciúmes perdido;
Pedi que elas desmontassem e não ligaram
E nada que fiz lhes intimidaram;
Fui tomado pelo surto de agressão;
Catei um pedaço de pau que estava ao chão
Que açoite em açoite se espedaçaram!

Nunca havia visto tanta estripulia,
Nada segurava a bolachinha,
Pulava corria aquela jumentinha;
No início as minhas irmãs até sorria
Mas à medida que o tempo corria;
Ai é que se viu ninguém continha:
Eu já eu contabilizava a culpa minha.
Foi de cortar meu coração;
Ao vê-las rolando pelo chão;
E ressentido e culpado eu me sentia!

A Baldina por muito tempo sentiu dor,
A Natilia teve menos sofrimento
Mas até hoje lembro o momento;
Que as duas me olharam com pavor;
E me condenaram pelo instante de terror;
E trago dentro do meu pensamento;
Quero até externar meu sentimento!
O culpado fui eu, de coração;
Mas quero hoje lhes pedir o meu perdão.
E lhes dizer que por vocês tenho amor!

Não há esperança: que dê jeito,
A bolachinha não irei mais encontrar,
Quero minha saudade agora registrar.
E que este caso para mundo cause efeito
Pois carrego bem forte no meu peito;
A certeza de que tenho que mudar;
E se ainda eu poder comprar;
Qualquer animal ou criação,
Para ele irei dar toda atenção:
Com todo respeito irei cuidar!

O jumento faz parte da história do nordeste.

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