"O QUE VOCÊ TIVER HERDADO DE SEUS ANTEPASSADOS, CONQUISTE-O NOVAMENTE POR SI. DO CONTRÁRIO NÃO SERÁ SEU".(VON GOETHE)



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Louco ou Gênio

Autor: Pedro Alves Neto
          Belizário Alves de Sousa, nascido no sitio pontais, Município de Ibiara, sertão da Paraíba; descendentes de pais pobres, família numerosa; todos analfabetos! Sem tetos e sem terra, não tivera desde sua gestação os cuidados de geriatras, ou pediatras. E também não fora nutrido de cuidados alimentício, porque não dizer que passara por privações, por toda sua existência, mas com maior intensidade na sua infância e adolescência. Fato tão absolutamente comum!...Perdurando pelos brasis, ate nossos dias atuais!
          Ele, com toda esta carga social, sua mãe falecera quando era ainda muito novo; ficara sobre os cuidados do pai e dos irmãos mais velhos! Não bastasse, o seu pai casara-se novamente, passando aos cuidados da mãe adotiva. Culturalmente as madrastas são bruxas malvadas, que freqüentemente causam danos psicológicos às vezes irreparáveis aos seus enteados. Aqui não há registro comprobatório, mas muitas evidências, tornando esta hipótese muito forte! Houve filhos do segundo matrimônio, e daí uma infinidade de conflitos; num destes o Tio Belo ( tratamento carinhoso, mas só para os mais íntimos) saíra de casa, ficara desaparecido por muitos meses, nunca soubemos com quem e por onde estivera, apenas que sua hiperatividade foi acelerada, fato confirmado pelos seus mais próximos quando do retorno.  Não há laudos que comprovem, pois não havia especialistas que o atendesse, no município, e por falta de recursos, não o encaminharam para centros de especialidades para fazê-lo. Mas de fato ele era diferente! Não sabemos se já nascera ou adquiriu nos caminhos da vida! O certo é que: tio Belo, nos permitiu uma experiência diversa; por tudo do ser humano que o era e também por ser diferente. Era muito elevado o grau de SPA ( Síndrome de Pensamento Acelerado ); que muitos o tratava como louco; uma posição que não discutirei aqui; mas vou relatar, momentos significativas que convivi com o mesmo.
          Era muito trabalhador, para que pudesse atender esta ansiedade de labutar, tornara-se quase um andarilho buscando vender suas diárias, pois havia de ser para conhecidos, em virtude de seu comportamento; geralmente trabalhava mais para seus irmãos e estes moravam distantes uns dos outro. Nestas caminhadas era confundido com mendigo ou louco, fora apedrejado e maltratado; pois se irritava com muita facilidade, vindo a ter um comportamento estranho: rezava, cantava em voz alta fazendo o sinal da cruz repetidas vezes; o que o tornava motivos de galhofas e importuna. Mas, quem dele  se aproximasse com sabedoria,  de certo saberá que ele:respeitava e tratava aqueles que lhes dava atenção, com educação e fineza!
          Um repentista, pois como todo bom Nordestino admirava a literatura de cordel; alem de tê-los, os bons versos de grandes autores, gravados na memória, ele mesmo os improvisara, principalmente quando estava desenvolvendo qualquer trabalho, e claro era desafiado por outro companheiro. Ouvi grandes rimas, pena que hoje não as tenho na memória para melhor comprovar, mais este fato de grandiosidade desta figura humana, Incomparável. Somente consigo recitar esta estrofe:”Para poder escapar daquela fera assassina, eu tive  de me esconder no bueiro da usina”. Mas havia muitos versos grandiosos, que se perderam e não haveremos nunca mais de ouvi-los, pois o mesmo já se fora, está noutra dimensão.
          Adormecia  à boca da noite, mas, todavia acordava muito cedo, madrugada ainda! Plantava-se de joelhos ao chão, e rezava por horas todas as orações imagináveis! E aqui esta atitude incomodava a todos, pois era feita em voz alta! Esta ação conflituosa lhes causara problemas. Pois quem o contratava o punha para dormir fora das casas. Às vezes em pleno relento, para não serem incomodados quando do despertar sonoro, quando este começava orar, realmente punham em pavor todos que estivesse ali por perto! Muito asseado, tomava até dois banhos por dia, porém ninguém se atrevesse a espiá-lo, era comprar uma grande encrenca, ou provocar uma greve de banhos. Esta atividade o mesmo só o fazia na certeza de estar sozinho! Era uma forma de pureza, castidade que o manteve virgem até a morte!
          O rendimento do seu trabalho era quase nulo, pois quase sempre se tratava de trocas. Trocas por roupa, calçados, produtos de higiene, rede lençol e alimentos. Mas quando da sobra de alguns trocados este dispunha de um modelo original, para preservar as economias! Vejamos um exemplo: suponhamos que o valor fosse múltiplo de três. Ele tomava três caixinhas de fósforo, colocava o montante numa delas, e as misturava; amarrava as três de cordão, e escolhia três casas para deixá-las; uma em cada casa. Passado o tempo, e a necessidade  surgindo ele retornava em busca das economias, mas não era um retorno aleatório; ele ao abrir a primeira caixa, fosse ela a premiada! Tirava uma parte, e voltava ao primeiro procedimento; somente seria conclusivo seu saque, se ele ocorresse na última caixa no último cofre! Havia uma lógica, ele as guardava nos fornecedores de serviços; muitas vezes ao retornar havia nova contratação; também ele era muito amoroso, tanto com os irmãos, quantos com seus sobrinhos, este retorno também servia como um encontro uma visita!
         Era muito amoroso ao meio ambiente. O vi muitas vezes quando roçávamos mato, ele ao perceber ninhos de passarinhos os preservarem, ao encontrar enxames de abelhas da mesma forma; no corte de mato, sempre que possível ele mantinha aqueles arvoredos que eram medicinais ou os que estavam em processo de extinção. Foi dele que ouvi pela primeira vez, uma preocupação com o momento de abate de animais. Pela dor e o sofrimento ele proponha que se dopassem. E isso pra mim foi de uma grandeza, que  passei a me educar mais a respeito de matança desenfreada e impiedosa que fazia de animais e passarinhos! E hoje, me apavora a crueldade com que tratam os touros, os galos de briga, as carrocinhas de gatos e cachorros!  Essa consciência ecológica devo ao meu Tio Belizário, que confesso: os meus olhos te viram mais como gênio, e tenho saudades das contraditórias ações que o levaram a te chamarem de louco.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Um anjo

Autor: Pedro Alves Neto
Há pessoas que desde o nascimento são diferentes, mesmo na infância já amargam padecimentos. Nesta sociedade de classe existem crianças, que já ao ser registrado no sistema cartorial recebem junto à marca d’água o passaporte da felicidade, testemunhado e referendado pelo tabelião oficial maior dessa instituição; há aquelas que em anexo a certidão de nascimento, também acompanha uma escritura de sesmaria de terras e outros bens materiais; e isso nos torna tão infinitamente desigual nos carecendo de fatores diversos para driblarmos essa disparidade infinitamente cruel. Nesta pequenez pré-destinada, selada pelas diferenças, tantas crianças veem para este mundo e são descriminadas por isso. E com esta situação tão absurda, de inferioridade, a maioria destes filhos da pobreza é cercada de uma desesperança da sobrevida, portanto: seres marcados para morrer ainda bebês, ou fadado a ser vitima de uma enxurrada de doenças, como: difteria, paralisia infantil, coqueluche, sarampo, varíola, rubéola, catapora, caxumba, etc. E ter sorte de vencê-las, e viver  as vezes  só para contar sua história. Mas há algumas crianças que encontram salva vidas; pessoas que plantam sementes de amor e bondade, e desempenham um papel importante na sociedade; verdadeiros portos seguros, que nos acolhem tão extraordinariamente, como se nos envolvesse com escudo protetor!  E exatamente, uma destas criaturas tive o prazer de conhecê-la. E de tão importante que foi, resolvi descrevê-la, para que se imortalize!
Conhecemos de perto o sofrimento do povo sertanejo, e nas brenhas do sertão paraibano, passamos por fases desanimadoras, quase intransponíveis. E para que se consiga romper tantos sofrimentos, percorremos caminhos! Longas caminhadas!... E nesse caminhar encontramos pessoas, muita gente!...E foram tantas que me deram a mão o colo e até mamar!... Mas quero aqui, fazer uma escolha! Destacar uma pessoa a qual, teve uma participação importante, muito intensa em minha vida! Que a escolhi, e tentarei aqui registrar sua infinita bondade e generosidade, com que cuidava de mim e dos outros sobrinhos e tantos eram!... Adi, Hilda, Dede, Dudu, Terezinha, etc. etc., impossível de relatá-los um a um; mas nenhum de nós jamais nos esqueceremos da nossa querida Madrinha Aurora.
 Não há como tirar da nossa mente a casa grande de padrinho Toninho, (Antonio Jacó de Sousa nosso avô), um casarão cheia de cômodos, caiada e ladrilhada; ostentando uma beleza rústica; significante, e cheio de significados; mas o que a tornaria belo mesmo? E a encantava por inteiro? Era a gentileza e a fineza que éramos recebidos naquele lar; pela nossa frágil pequena e inesquecível madrinha! Tanta doçura no seu falar, tanta ternura no seu olhar e tanta verdade nos seus ensinamentos; que hoje, tanto tempo passado sinto-me, tomando sua benção; que eram carregadas da mais fervorosa fé, a ponto de estar arraigado ao nosso pensamento, ainda trago-as viva em minha memória! E serei eternamente grato ao seu método de cuidar, e principalmente ao cuidar de mim.
Ela amava: gente, animais e plantas. Não posso esquecer-me dos cuidados que tinha com o jardim, este próximo a porta da entrada principal da casa grande do vovô. Tão esplendoroso e belo, ao abrirmos a cancela que dava acesso ao terreiro, éramos tomados do perfume das rosas brancas de Bugarí, e nos deslumbrávamos o encantamento das papoulas, brincos de moças, rainha do prado e rosas de maio. Não há como esquecer também das plantas medicinas, como: alecrins, hortelãs, malvas, romãs, losna, agrião e manjericão; ela as  regava com água do riacho do chorão, apanhada numa cacimba funda,  cavada ao capricho pela força do homem, tão profunda estava a mina d’água, que mais parecia uma trincheira; era uma vala escura que nos encobria totalmente quando nela adentrávamos.  Mas não fora, mesmo nos anos de escaldante seca; para nossa madrinha obstáculo, que a impedisse de manter aquele Oasis. Nunca deixara, de encher os pontes e panelas e também aguar os troncos daquelas plantas,  enchendo-as de encantado  verde e muita beleza!
Fora ela uma das mais conceituadas tecelã; quando não estava a nos servir, de comida, bebida ou carinho, lá estava ela com meadas de linha, tingindo-as ou transformando-as em novelos; e depois de enrolados levava-os para o tear, e quanto fio teceu!.. De modo não haver ninguém da nossa região, que não possuiu rede fabricada por ela. Trabalho duro, intenso e perigoso, que lhes trouxera conseqüências desastrosas no final da vida; mas não há como esquecer a casinha do tear ao lado do casarão, e o barulho dos pedais acionados por ela movimentando os pentes numa trama artesanal; com a lançadeira prá lá e prá cá tecendo milhares de metros de pano, que agasalharam a mim, e há muita gente!
Não consigo esquecer a bondade com que nos cuidava ao visitá-la, sempre havia algo guardado nos caritós, latas ou cumbucas para nos oferecer, como: manga, rapadura, doce de gergelim, fubá de milho. E que mangas maravilhosas! Eram tiradas dos pés e colocadas num pote enorme que ficava na cozinha; fechava-se sua boca com um tecido e esperava-se amadurecer! E ai daquele que houvesse o atrevimento de tirá-las antes, para tal indisciplina, havia castigo sim: atrás da porta da cozinha estava sempre um chiqueirador de couro cru, que seria açoitado no lombo dos desobedientes! Punição que nunca se concretizara, pois  nós éramos muito espertos: corríamos, aproveitando do fato de nossa tia ser deficiente! Daquela casa não se saia sem beliscar alguma coisa.Não havendo uma comidinha qualquer, e isso, raramente ocorria!  Não podíamos ir embora sem que nos passasse um café ou chá, mas havia de nos satisfazer com sua gentileza acolhedora! “Era daquelas pessoas que nos remete a religião, e chamamos de santa e bendita criatura”!
            Substituta natural da nossa mãe; quando esta precisava se ausentar por mais de um dia, lá ia ela, tomar conta de todos nós. E que substituição genial! Claro que sentíamos saudades de nossa mãezinha, mas bem que torcíamos para que ela se demorasse onde estivesse tão carinhosamente éramos tratados. Era uma pessoa ética, experiente, conselheira, e perseverante! Quanta esperança nos alimentou, amenizando nosso estado de pobreza, nos deslumbrando um mundo melhor! Até participou da nossa alfabetização, pois também possuía uma bela caligrafia, e boa didática; ajudando na construção alfabética; era uma eximia contadora de estória, algumas as recontam até hoje!
Esta criatura de tanta bondade e abnegação, ainda foi mãe adotiva de três crianças; criadas com cuidados e tomadas do amor; hoje os três são exemplos de cidadania, claro que a ajudaram muito também! E o fizeram conscientes do dever; pois foram educados para servir e amar ao próximo; lições elaboradas e exemplificadas pela nossa Madrinha Aurora! Que no final dos seus dias fora acometida por uma cegueira irreversível, que a tornou incapaz de ver a nós e a todos; não com os olhos, mas continuou enxergando com a alma e com o coração; e servido a todos com seus ensinamentos; tão pura! Tão angelical! Que não tenho outro cognome que melhor possa representá-la. Querida Madrinha Aurora para nós, você foi: Um Anjo! Plagiando o poeta: que bom seria “se todos no mundo fossem iguais a você”; descanse em paz amada criatura, sentimos muito sua falta! E nos iluminamos nos teus ensinamentos!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Acróstico Genealógico

Autor: Pedro Alves Neto

Mais experiente, pois és a primeira
Atenciosa compreensiva e carinhosa
Realista, empreendedora laboriosa
Intensa, no trabalho e nas ações.
Elegante irradiante de emoções.
Leal, solidária e mensageira
Linda honesta e verdadeira
A razão de nossas vibrações!

Nascida nas comemorações
A s vésperas da festa natalina
Jesus Cristo nos deu outra menina!
Acolhida num berço de orações
Reiterando as nossas vibrações.
Hoje e sempre sua alegria nos atina:
Acolhimento amor e inovações.

Ostentas simplicidade e afeto
Naturalmente conquista simpatia!
Atenta ao teu objetivo, concreto.
Raramente se esbanja na alegria.
Honesta diante aos compromissos
Amizade te envolve dia a dia.

Princesa morena concentrada;
Autêntica, sincera e decidida!
Uma jovem de fé abençoada
Lúdica, animada e extrovertida
Ligada à ação preponderada
Inteligente, austera e divertida.
Não há alguém mais bela e destacada!
Exemplo, de esperança amor e vida.

Tens os raios do sol no seu olhar,
Harmonia das flores do jardim
A alegria de pássaros em revoada.
Imagens de um encanto sem fim.
Não há, e nunca haverá de ter, certamente,
Alguém que me encante tanto assim.

Para que eu te descreva na essência
Infelizmente, não tenho tal poder.
Elejo, a todos os anjos e aos deuses;
Todas as fontes do saber.
Reis, sábios, cientista e doutores.
AH! É pouco, pra tudo o que quero te dizer!
  
A minhas filhas amadas:
Mariella, Najarha, Onarha, Paulline, Thaina e Pietra.
São Paulo, 06 de Janeiro de 2009.



O homem e o mar

Autor: Pedro Alves Neto
 
Comparo a nossa existência,
Com o mar bravio e forte;
Nós uma bussola indicando:
Leste, oeste, sul e norte.
Dum lado a praia da vida,
Do outro o porto da morte.

Ondas, que trazem a sorte,
Do banho  efervescente
Outras, quase maremotos,
Que machucam fortemente.
Praias de amor e poesia,
Outras, de ódio indolente.

Baias de águas  quente,
Outras de gelo e  impureza;
Brisas e ares perfumados,
 Ventanias de incerteza.
Iates de luxo e conforto.
E  jangadas  de pobreza.

A senhora natureza,
Arbitrando nosso ser,
Confortando os inválidos;
Clareando o amanhecer,
Sustentando, os raios fortes.
Para a semente nascer!

A maré baixa do saber,
Ondas altas, de ignorância.
Praias de lamas, fétidas;
Do lodo da arrogância!
Pequenas lanchas de amor;
Navios de intolerância.

Marolas de confiança,
Tsunami de egoísmo;
Águas turvas do desamor;
Brisa podre de ostracismo
Areias sujas de sangue
Das vítimas do vil racismo

Ondas quebrando no abismo,
Do recife da desigualdade;
Maré alta da agonia;
Do desgelo da maldade.
Tornados de traição,
Maré baixa da verdade!