"O QUE VOCÊ TIVER HERDADO DE SEUS ANTEPASSADOS, CONQUISTE-O NOVAMENTE POR SI. DO CONTRÁRIO NÃO SERÁ SEU".(VON GOETHE)



sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

HOMENAGEM

Autoria

Bernardina Alves de Sousa 
Beatriz Alves de Sousa 

Hoje estamos todos reunidos para celebrarmos os cem anos de nascimento da pessoa mais importante de nossas vidas. “Mãe, madrinha vó, Dona Sitonia”.
Falar de alguém que amamos, às vezes, parece fácil e ao mesmo tempo difícil...
Até porque encontrar no vocabulário palavras para definir a grandiosidade de nossa mãe é impossível ...
Dona Sitonia foi uma criatura em primeiro lugar humana, enquanto vida não media esforços para ajudar o próximo. Foi sábia na educação dos filhos, usando os princípios bíblicos e falando de histórias vividas. Dialogando sempre mostrou o caminho do bem e da verdade. Foi, pois, uma mestra na condução da família.
Mulher de fé rezava em seu santuário o terço diário, o novenário do mês de José e do mês de Maria e as novenas de São João. Era também devota fervorosa de Santo Antônio Viajante.
Agricultora: roçava, plantava, capinava e colhia.
Artista: bordava, costurava, fazia crochê e flores. Sabia como ninguém escolher as estampas e os modelos de seus vestidos e cuidava muito bem dos detalhes finais; era uma estilista dos tempos atuais.
Dona de casa: administrava o lar com sapiência. Com os poucos recursos que dispunha, ela alimentou e usado a medicina popular cuidou de nossa saúde.
Leiga de estudo, mas culta de conhecimento e sabedoria.
Severa, porém dócil, acolhedora. Ela cativava a todos/as com suas ações. Nós sabíamos do tamanho de seu coração de mãe. Por isso, entendíamos quando ela excedia na disciplina.

Pobre, porém rica de coração, de generosidade, na sua mesa o pão era compartilhado.

Verdadeira, honesta, mas foi além do seu tempo na luta pelos seus direitos. Semeou esperança como mãe, foi bondosa como irmã e como esposa perseverou no bom senso e muito respeito.
Simples, modesta, mas social, participava das cerimônias familiares, das festas religiosas e profanas levando a sua prole para aprender a conviver em sociedade, ensinando e recomendando o que podia e o que não podia ser feito, seguindo os princípios e a ordem.
Mulher de atitude, de coração generoso. Foram muitos os ensinamentos...
Além de esposa, mãe, dona de casa, agricultora e artesã, “Dona Sitonia” ainda encontrava tempo para visitar alguém: parentes, amigos ou vizinhos que estivessem doentes ou em dificuldade para levar nem que fosse uma palavra de conforto.
Sabia como ninguém preservar suas amizades e, desse modo, sempre tinha um agrado para as suas amigas: quer fosse produto de sua roça ou de suas mãos habilidosas, mas suas mãos nunca estavam vazias para receber as pessoas amigas, principalmente seus/suas filhos/as e seus/suas netos/as. Qualquer um dos netos e netas que a conheceu lembra-se da latinha de bolacha, do beiju com leite ou com rapadura, da tapioca de “Madinha vó” como a chamavam...
Qual dos/das filhos/as que não se lembra da semana santa, da noite de São João e do jantar de noite de festa na casa de Dona Sitonia?
Assim, tu foste a condutora de cada passo de nossas vidas, usando palavras duras e severas para repreender as falhas e as lágrimas para demonstrar o teu amor.
Chorava muito a partida de cada um de seus filhos que saía de casa em busca de suas realizações pessoais, mas tinha a compreensão que seus filhos precisavam tomar seu rumo e seguir seus caminhos. Por isso, apoiava a decisão de cada um, tanto que viveu sozinha os últimos anos de sua vida.

Mãe, exemplo de austeridade, de força, de persistência, de fé, mas de bondade, de sensibilidade e de amor. Foste, assim, um ser humano que mesmo na imperfeição de alguns de seus atos conseguia ser perfeita nas suas atitudes e nas suas ações.

Mãe, o tempo passa! Contamos um centenário que tu vieste a este mundo. Hoje, tu não estás mais entre nós, mas a tua presença está imortalizada nos ensinamentos que tu deixaste e vai permanecer por muitos centenários porque tu soubeste, na sua simplicidade, construir uma família, e família é continuidade não tendo, portanto, fim.

Filhas, filhos, noras, genros, netos, bisnetos e tataranetos te agradecem por tudo que fizestes por nós, pelas tuas lágrimas derramadas, pelos teus sofrimentos em silêncio, pela tua vida entre nós. Muito obrigada, descansa em paz.

Nunca se esqueça, nem um segundo
que o nosso amor é o maior do mundo.
É tão grande o nosso amor por você.
Mas como é grande o nosso amor por você. (Roberto Carlos)

Da roça para o doutorado: uma história de superação


Autora: Donatilia Alves de Lima


Peço a atenção dos ouvintes,
para a história que vou contar.
Um belo exemplo de vida
 que vale a pena imitar.
Uma luz no final do túnel,
ela conseguiu alcançar.

Foi aqui nesta casa,
onde tudo começou.
Uma garota frágil
dotada de tanto amor.
Que com muito esforço
seu sonho realizou.

De uma família numerosa,
ela era a caçulinha.
Num gesto carinhoso,
mãe chamava de pretinha.
Mais de preta não tinha nada,
era branca e espertinha.

Logo nos primeiros passos,
já se mostrou sabidinha.
E como na nossa casa,
funcionava uma escolinha,
não custou a despertar,
o gosto pelas letrinhas.

Começou na carta de ABC,
a sua primeira lição.
Para escrever as letras,
alguém pegava na mão.
E como ela era esquerda,
foi uma contradição.

Na cartilha do povo,
 decorava a lição.
Não entendia o gênero,
 mas amava a ilustração.
Cada texto era uma viagem
na sua imaginação.

De primeira à quarta série,
 um estudo à prestação.
Sempre que tinha tempo,
o livro estava na mão.
Seu amor pela leitura
causava admiração.

Para ingressar no 5º ano,
passou por uma seleção.
Foi estudar em Ibiara,
na companhia do irmão.
Isso no turno da noite,
 pois não tinha outra opção.

Caminhavam 12 quilômetros,
seis pra ir seis pra voltar.
Com o trabalho da roça,
 tinha que conciliar.
Muitas vezes voltava à noite,
para não se atrasar.

Ainda tinha outro problema,
o medo da escuridão.
Já diziam os mais velhos,
a estrada tinha assombração.
E as almas estavam lá,
 no riacho do chorão.

Vinham os dois sozinhos,
na estrada a caminhar.
Se não fosse a precisão,
ninguém ia se arriscar.
Só pensavam nas oiticicas,
e como iriam passar.

Terminando o 1º grau,
tomou outra decisão.
Já que parar de estudar,
não era a solução.
E o segundo grau só
 tinha em Conceição.

Ir para João Pessoa,
foi a primeira opção.
Lá já havia parentes,
até mesmo um irmão.
Que nos primeiros dias,
foi quem lhe deu a mão.

Com todas as dificuldades,
conseguiu se formar.
O curso de bibliotecária,
já era de se esperar.
Seu amor pelos livros
nos fazia acreditar.

Através de concurso público,
veja onde fora parar.
Na biblioteca do IF,
e ainda hoje está por lá.
Gosta tanto do que faz
que não quer se aposentar.

Escritora de mão cheia,
já publicou duas edições.
Também fez o seu mestrado,
com muita dedicação.

Inscreveu-se no doutorado,
e teve boa aprovação.
Foram três anos de luta,
daqui pra Santa Catarina.
Lá fez suas pesquisas,
em várias disciplinas.
Pra defender sua tese,
como as regras determinam.

Em agosto de 2014,
seu sonho se concretizou.
 Lá em Florianópolis,
seu trabalho apresentou.
E como estava perfeito,
 a comissão aprovou.

Da roça pra o doutorado,
 montanhas teve que escalar,
 galgando cada degrau,
sem medo de escorregar.
Por maior que fosse a queda,
sabia como se levantar.

Já diziam nossos pais,
Isso você deve lembrar.
Que tudo que é difícil,
a gente sabe valorizar
 Por todas tuas conquistas,
 queremos te elogiar.

Doutora Beatriz !
É assim que vamos chamar.
Por todos esses caminhos,
que você soube trilhar.
 Por isso com muita honra,
queremos te homenagear.

Estes versos tão simples,
 talvez com imperfeição.
 Escritos por Donatilia,
com amor e gratidão.
Em nome de tua família,
que te ama de coração.

Ibiara - 26/12/2014