Autor: Pedro Alves Neto
Não posso esquecer aquele dia: já passava das duas da tarde, numa sombria tarde, era seca, mas havia certa umidade na atmosfera, talvez a própria natureza estivesse prevendo o que houvera acontecer, já podia se sentir: era uma tarde melancólica e triste! Já havia um pré-sentimento sim; mas nem um pouco perto do que estava de fato para acontecer.
Não lembro quantas pessoas se encontrava em casa, mas a minha mãe sim ela lá estava na cozinha bebendo um café ao pé do fogão de lenha, e lá eu também estava; cuidava do irmão ainda bebê, e ali se encontrava também uma irmã das mais velhas não consigo lembrar, qual delas... Eram tantas!... De repente pelo corredor, entra a figura esquia de meia idade! Cabisbaixo já pelo seu comportamento se percebia está tomado de emoção; era tio Expedido e sem que lhe dissesse uma só palavra; minha mãe já percebera a gravidade do que seria pronunciado pelo mesmo! Ela, num grito misto de dor e pavor que de longe poderia ser ouvido, e voz já embargada pelo choro: foi papai que morreu! E a partir daquele instante, e durante muitos meses, eu assisti e também senti a tristeza imensa que se abalou na nossa família; mas se fazia mais forte aos nossos olhos, a tristeza da nossa mãe; cheguei a pensar que ela também morreria de tanta dor!
E já começava escurecer, meu pai e irmãos que estavam a trabalhar num trecho, chegaram já sabedores do enlace triste; e o que se via lá em casa naquela tarde: todos, do mais velho ao caçula chorar copiosamente. E mesmo nesta tristeza sem fim, arrumava-se a todos para irmos a casa do nosso agora ex-avô, era lá que seria o velório. Trocava-se de roupas, calçávamos as alpercatas, fechávamos as portas, colocávamos a tramelas; e antes de escurecer totalmente, já tomávamos a rodagem a caminho de uma reunião, das mais melancólicas que pude vivenciar em toda minha vida!
No caminho andávamos desnorteados, mais parecia um percurso para o cemitério; qual era a comoção que em todos pairava! Era tamanha que os que por aquela estrada também àquela hora passavam, se comoviam e nos apoiavam; e neste cordão de tristeza, nos deslocamos até a casa grande, que naquele entardecer mais parecia um mausoléu de lamentações: de todos os lados chegavam pessoas, e sempre chorosas! Em nada mais parecia o lugar que nos recebia com saudações e alegria, e acolá passaria a partir daquele dia serem somente recordações, e estas recordações são como uma conta gota vem desde então me dosando e tomando um grande espaço da minha vida!
A primeira coisa que fizemos ao chegar à casa, foi olhar o corpo que friamente jazia sobre uma cama, ele ao meu olhar parecia dormir, mas para os adultos, era o sono eterno, e por isso minha mãe naquele momento tomada de muita tristeza e por compreender a dureza que significava separação definitiva do seu papai querido, de um assalto tomou nos braços,e comovendo a todos que ali se aglomeravam, implorava em soluços, para que este a levasse também; claro que os adultos compreendiam melhor o que se passara ali, mas confesso que me comovi muito: mais ao pensar da possibilidade de perdê-la também!... Chorei muito ali pertinho dela, e no meu soluço pedia baixinho para que ela não fosse com o meu avô. E depois daquele momento, sentia uma tristeza maior pelo sofrimento de minha mãe, que pela morte do vovô! Isto se fez presente durante toda a noite, e foi muito difícil de pegar no sono! E durou o dia inteiro, até que eu visse o caixão saindo, e sendo carregado caminho afora, até desaparecer ao topo da ladeira que dava para casa de Batista! E ali, mesmo vendo minha mãe desconsolada, pela grande perda, suspirei aliviado: não havia ido junto, como era seu desejo; um ato compreensivo e demonstrativo de solidariedade e amor; entre pais e filhos.
Era tarde já passava das cinco horas da tarde do dia seguinte ao ocorrido, nada mais havia que nos interessasse naquele lugar; e ela a grande matriarca, sentindo o peso da responsabilidade, pois a vida continuava para toda sua prole, reúne a todos nós e numa última homenagem ao nosso querido avô, anda por todos os cômodos da casa grande, e também na sala onde ele havia permanecido por muitos meses postados numa rede. Não me recordo o que dissera naquele momento de dor; mas fizera o último ato de despedida! E nos reuniu, e nos colocou a todos no caminho de volta para nossa casa.
Não olhávamos para traz, pois quando alguém o fazia era motivos para nossa mãe caiar em pranto; e passo a passo fomos aos pouco nos afastando do lugar que outrora se fazia nossa segunda morada; e que depois da ausência do avô se transformara numa residência apenas de boas lembranças e muitas saudades! Nada poderia substituir o sorriso maroto, o jeito carinhos, as lorotas daquele senhor de fina aparência, e boa educação: Antonio Jacó de Sousa; meu inesquecível avô!